ou aula de estratégia empresarial
Esta é a história de Meyer, um judeu nova-iorquino, viúvo solitário que, um dia, andava pela Delancey St, desejando que algo de bom acontecesse na sua vida.
Naquele instante, ele passou por uma pet store e ouviu uma voz estridente de papagaio gritando em ídishe, “Quack. vus machts du” (Como vai?) “Quaaack, Yeah, du” (Sim, tu mesmo).
O pobre Meyer não podia acreditar nos seus ouvidos. Aquele papagaio falava um ídishe perfeito!
O proprietário, sentindo a confusão em Meyer, aproveitou para convidá-lo:
– Venha, entre aqui, meu amigo. Veja que interessante este papagaio.
Meyer, meio hesitante, entrou. E o belo papagaio cinza africano mexeu a sua pequena cabeça para esquerda e direita, como os papagaios fazem, e largou: “Vus? Kenstsprechen Yiddish?” (O quê? você fala iídishe?).
Após alguns segundos, Meyer já tinha largado quinhentos dólares no balcão e levava o papagaio na sua gaiola para casa.
Ele passou a noite toda falando com o papagaio, em iídishe. Ele contou as aventuras e desventuras de seu pai, como ele chegou na América fugindo dos horrores na Europa.
E contou também como sua falecida Sarah era linda quando jovem, e que grande alegria foi quando nasceu o primeiro filho.
E ainda a história de como ele passou a vida toda trabalhando numa pequena lojinha vendendo roupas por atacado.
O papagaio escutava e comentava, também em iídishe, interessado na vida do Meyer, comendo nozes e avelãs.
Depois, o papagaio contou da sua vida na loja de animais, da sua tristeza de viver numa gaiola, em como ele se sentia solitário nos fins de semana.
No fim, foram dormir bem tarde, cansados.
Na manhã seguinte, Meyer começou a botar os tefilins (filactérios), enquanto entoava as rezas da manhã.
O papagaio, confuso com tudo aquilo, exigiu que Meyer explicasse o que ele estava fazendo.
Quando Meyer explicou, o papagaio disse que também queria. Depois de um tempo, com a insistência do bicho, Meyer acabou fazendo um conjunto miniatura de tefilins, especialmente para o papagaio.
O papagaio, então, aprendeu cada uma das rezas importantes do dia. Ele quis até aprender a ler em hebraico.
E, assim, Meyer passou semanas, meses, anos, sentado na mesa ensinando o papagaio: primeiro hebraico, depois a Torah, depois partes da Guemará.
Com o tempo passando, Meyer aprendeu a amar o pássaro, e a vê-lo como um amigo judeu.
Um dia, na manhã de Rosh Hashaná (Ano Novo), Meyer se levantou e se vestiu todo bonito para ir à sinagoga.
Quando ele estava para sair, o papagaio exigiu ir junto. Meyer tentou explicar que a sinagoga não era lugar para um pássaro, que ele não podia levá-lo, mas tanto o bicho insistiu e com argumentos tão complexos, embasados nas Leis, que no final Meyer acabou levendo o pássaro no seu ombro.
Como é de se supor, foi um espetáculo na sinagoga. Todo mundo queria saber o que Meyer estava fazendo com um papagaio, inclusive o Rabino e o Hazan (cantor).
Eles não permitiram de modo algum que o bicho entrasse no edifício, especialmente no Rosh Hashana.
Mas Meyer usou todos os argumentos que o bicho tinha levantado, implorando que ele entrasse só dessa vez, que eles veriam como o seu papagaio podia rezar.
Até apostas foram feitas, milhares de dólares, como o papagaio jamais iria rezar, como não era possível para o bicho grasnar em hebraico ou iídishe. Em suma, armou-se uma tremenda confusão.
Todos os olhos estavam no papagaio africano durante os serviços de Rosh Hashaná.
Enquanto isso, o papagaio, quieto no ombro do Meyer, não soltava um pio. Meyer começou a ficar nervoso, primeiro falando baixinho, depois batendo no bicho para ver se ele rezava, e nada – nem um pio. Já meio desesperado, Meyer implorou:
– Por favor, meu papagaiozinho estimado, reza, reza como combinamos. Veja, estão todos olhando para ti.
Mas nada. O papagaio sequer piava. Passaram-se todas as rezas, os serviços de Rosh Hashana terminaram, e nada de o bicho sequer abrir o bico. As pessoas começaram a dizer:
– Eu acho que o teu papagaio é mudo. Inventaste esta mentira de que ele falava iídishe e hebraico.
E assim, ao anoitecer, Meyer descobriu que devia para os seus amigos no shil (sinagoga) e para o Rabino, a pequena fortuna de quatro mil dólares!
Ele voltou
para casa indignado e carrancudo, sem dizer absolutamente nada para o bicho.
E eis que, depois de algumas quadras andando cabisbaixo, o papagaio começou a entoar, lindamente, uma velha canção iídishe, cantarolando alegre como se estivesse enamorado.
Naquele momento, Meyer, meio que indignado, parou, olhou feio para o papagaio e explodiu:
– Explique-me o porquê. Por quê? Depois de tudo que eu fiz por ti. Fiz tefilin, ensinei-te as rezas da manhã, ensinei-te hebraico, Torah, tudo isso.
E ainda por cima me imploraste para vir comigo para a sinagoga, justo em Rosh Hashana! Por quê? Por que fazer isso justo comigo?
O papagaio, com um sorriso maroto, respondeu:
– Meyer, motek. Não seja um shmock (babaca). Pense em como vão estar as nossas chances nas apostas de Yom Kipur! (Dia do Perdão, dez dias depois)!